O presente texto tem como objetivo
analisar a certificação com o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no Brasil e
na Bahia desde 2009, instituído pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais – (INEP), em 1998, para ser aplicado aos alunos concluintes e aos
egressos deste nível de ensino.
Foi usada como parâmetro a Portaria
Normativa no. 16, de 27 de julho de 2011 do Ministério da Educação que dispõe
sobre certificação no nível de conclusão do Ensino Médio ou Declaração de
proficiência com base no ENEM.
Trabalhando como professora no Centro
Estadual de Educação de Adultos- CEA, que é uma escola da rede pública de
Salvador na Bahia no Brasil, com certificação de alunos no nível de conclusão
de ensino fundamental e médio, percebemos, ao longo de doze anos nesta
instituição, que cada vez mais os concluintes se sentem pressionados pelo
mercado de trabalho, pelo vestibular e pelo ENEM, a ter um excepcional
desempenho em um emaranhado de provas sobre todos os assuntos, em dias e
horários que às vezes, não lhe são convenientes e, por conseguinte não estão
alcançando as médias exigidas.
Foi observado também que o novo processo é constituído
de questões mais analíticas e num contexto mais integrado. Nesse caso o aluno
precisa refletir mais, fazer inferências e buscar correlacionar assuntos. No
entanto, o ENEM ainda não é a excelência em avaliação. São provas muito
cansativas, e consideradas um “teste de resistência” por grande parte dos
educadores, o exame é composto de quatro provas com associação entre conteúdos,
competências e habilidades básicas próprias ao jovem e jovem adulto na fase de
desenvolvimento cognitivo e social, com quarenta e cinco questões cada e, em
2011, poderá ser usado como ingresso em dezenas de universidades em todos os
estados do país.
A aplicação do exame é feita em dois dias, e os
candidatos tem no primeiro dia, quatro horas e meia para resolver as questões
de ciências da natureza e ciências humanas. No dia seguinte, a prova terá
duração de cinco horas e meia e, além de contemplar 90 questões de linguagens,
códigos e suas tecnologias (português e língua estrangeira) e matemática,
inclui-se a redação.
Surge então a questão: de que adianta as propostas e
discussões sobre mudanças no ensino médio elaboradas pelo Governo Federal, se
ao final o aluno terá que decidir o seu futuro por meio de uma prova?
Na década de 1990, houve no Brasil muitas mudanças no
campo educacional, como por exemplo, a publicação da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB-9394/96) que introduziu importantes inovações conceituais e
organizacionais no sistema educacional brasileiro, e o surgimento dos PCN’s
para o Ensino Fundamental e Médio. Neste âmbito, surge o ENEM, aplicado pela
primeira vez em 1998, com o principal objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes
brasileiros ao término da educação básica e o desenvolvimento das competências
fundamentais para o exercício da cidadania.
Nesse período o ensino médio, ganha uma nova
identidade como etapa conclusiva da educação básica, recebendo a atribuição de preparar
o aluno para o prosseguimento de estudos, a inserção no mundo do trabalho e a
participação plena na sociedade. (LDB-9394/96)
A estrutura conceitual de avaliação do ENEM, delineada
no Documento Básico de 1998, que definiu as suas características gerais, foi se
aprimorando e consolidando a cada aplicação do exame, sem, contudo, afastar-se
dos fundamentos estabelecidos na concepção original de acordo com o Ministério
de Educação e Cultura – MEC.
A base epistemológica do ENEM tem como principal
fundamento o conceito de cidadania, dentro de uma visão pedagógica democrática
que preconiza a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e
do pensamento crítico.
Como já dizia Paulo Freire no seu livro Pedagogia da
Autonomia, (2000 p. 33) “Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”, uma
vez que os mesmos chegam à escola com estes saberes socialmente construídos na
sua prática diária e muitas vezes não é discutido em relação ao ensino dos
conteúdos, e a sua realidade concreta.
Sabendo que ensinar é um ato que exige criticidade e
ética, pergunto: o que está acontecendo com a escola que se esquece do
respeito, da ética para com seu aluno?
Nesse contexto surge a figura do educador como mediador
de prática educativa e pedagógica. A prática educativa e a prática pedagógica,
por si, já fazem mediações: elas são meios pelos quais a estética (arte e
espiritualidade), a ética (cultura axiológica de uma comunidade) e a ciência
(conhecimentos objetivamente constituídos) chegam aos educandos.
É observado na prática escolar que a mesma recebe
influências de todos os meios de comunicação, transferindo para ela a
responsabilidade de refletir sobre a realidade e criticá-la por isso tornou-se
necessário fazer com que a escola enquanto instituição faça valer o seu papel,
estabelecendo, assim, uma relação prazerosa entre o conhecimento e o saber,
desenvolvendo a comunicação e o pensamento crítico, para levar o educando a
resolver situações problemas, num processo dinâmico de construção do seu
conhecimento.
No entanto
o que é visto foge da realidade da grande maioria das escolas e se percebe que
as aulas ainda hoje na rede públicas baianas são consideradas rasas,
desinteressantes e neste contexto, ressalta-se o que fala o professor Cipriano
Carlos Luckesi (2006) quando perguntado sobre o que ele pensa a respeito de alguns teóricos acreditarem que os currículos das escolas de ensino médio ter
sido proposto para atender a massificação do ensino e neste sentido ele critica
a postura dos professores quando diz que a distorção não está no currículo e
sim na concepção pedagógica assumida pelos educadores,
A educação foi instituída para “formar o educando e
o cidadão” e não para cumprir o currículo; contudo, os educadores centram sua
atenção no currículo e esquecem o educando. O currículo é um dos recursos
necessários a ser utilizado pelo educador para que o educando aprenda e, por
aprender, se desenvolva como sujeito e como cidadão. Cumprir o currículo não
cumpre a finalidade da educação; ao contrário distorce a sua finalidade. O
currículo é necessário, mas a serviço da formação do educando. O que massifica
não é o currículo em si, mas sim o seu privilegiamento por sobre o educando,
que é o centro da atenção do ato educativo. Então, nós educadores necessitamos
de colocar nossa atenção no educando e nos servirmos do currículo como recurso
mediador da aprendizagem e do desenvolvimento; e não o contrário o educando a
serviço do currículo. Se assim agirmos, do ponto de vista pedagógico, a
massificação desaparece, na medida em que será o indivíduo o foco de nossa ação
educativa.
Sendo assim os professores se tornam incapazes de
preparar os estudantes do século XXI para disputar espaço em um mercado de
trabalho global, no qual a capacidade de inovar é cada vez mais valiosa e ainda
assim os alunos têm de se preparar para uma avaliação e competir em igualdade
de conhecimentos com todos que se inscrevem para o ENEM a nível nacional e não
apenas local.
O ENEM foi aplicado em 2011 a 6.221.697 estudantes do
país inteiro e dá a dimensão do abismo a vencer pelos inscritos. Desde que passou a fazer às vezes de vestibular em 2009, o
Enem ganhou outro peso. Em 2011, cerca de 83 mil vagas em instituições públicas
foram disputadas diretamente com base na pontuação da prova por meio do Sistema
de Seleção Unificada (Sisu). A FUVEST, que seleciona para a prestigiada USP
(Universidade de São Paulo) ofereceu 10.752 vagas para ingresso neste ano.
É importante ressaltar que nas últimas
aplicações do exame, surgiram problemas. Em 2009, a prova foi furtada de dentro
da gráfica em que estava sendo impressa. Em 2010, um erro gráfico e uma troca no cabeçalho
dos gabaritos provocaram tumulto no processo e em 2011 algumas questões das
provas foram aplicadas para uma turma de cursinho pré-vestibular em Pernambuco.
É um espanto o que ocorre com a educação
brasileira refletindo em todos os sentidos o que também ocorre na sociedade.
Dos 23.900 colégios públicos e particulares submetidos ao teste em 2010, não
mais de 1.500 ou 6% da amostra – tem nível semelhante ao das escolas de países
da OCDE (organização que reúne os mais ricos).
O ENEM trata de desmistificar uma ilusão
que muitos pais cultivam ao matricular seus filhos em uma instituição privada –
a de que eles ganharão um passaporte para o sucesso na vida adulta. As escolas
mais caras, com uma excelente infra-estrutura e prédios maravilhosos muitas
vezes oferecem na sala de aula qualidade equivalente à das escolas apenas
medianas do mundo desenvolvido.
Neste sentido me reporto a Boaventura
(2008), quando explica um dos conceitos centrais da epistemologia do Sul e diz:
“como cada saber só existe dentro de uma
pluralidade de saberes, nenhum deles pode compreender-se a si próprio sem se
referir aos outros saberes com os limites e as possibilidades de cada saber residir
assim, em última instância, na existência de outros saberes e, por isso, só
podem ser explorados e valorizados na comparação com outros saberes”,
Provavelmente, é esta comparação que se
faz ainda hoje entre as escolas brasileiras e as européias ou asiáticas.
Várias razões explicam este cenário da
educação brasileira e se percebe quando observa-se
que o ENEM não avalia o conteúdo específico da aprendizagem. Não verifica se o
aluno aprendeu o que o currículo do ensino médio deveria ensinar. Isso tem a
ver com o fato de que, no Brasil, nós não temos um currículo muito bem
definido. Alguns países têm uma grade curricular muito mais estruturada. Os
alunos, ao final do ensino médio, têm que saber determinados conteúdos de
matemática, geografia, história, etc. No Brasil, isso não é bem delimitado.
Temos alguns parâmetros curriculares, mas eles são muito vagos. E o ENEM não
mede isso. Portanto, é impossível saber se os alunos estão aprendendo e o que
eles sabem pois como diz Luckesi (2006) na maioria das escolas regulares não se
pratica avaliação e sim exames
As ideologias culturais estabelecida nas
redes ainda são de base conteudista e tradicionalista, exigindo muitas outras
ações complementares para sua revisão e não apenas a adoção de exames de
admissão às universidades com base em provas que exigem mais dos alunos. A forma
de preparação desses alunos para esses exames e em especial para a vida,
demanda a revisão de todo um modo de pensar, agir e realizar em educação que
tem décadas de existência no país.
O Brasil ainda apresenta indicadores
educacionais abaixo dos padrões internacionais e desde os anos 1990 o país tem
procurado avançar na superação deste quadro, intensificando o esforço de
universalização do ensino fundamental, deixando a inquietação sobre a educação
passar dos educadores para os empresários, sindicalistas e profissionais de
outras áreas que com a política econômica internacionalizada vê-se obrigada a
adotar novas tecnologias na produção e na organização do trabalho, lançando mão
dos avanços da microeletrônica e determinando novos perfis ocupacionais para os
quais a escolaridade básica completa e de qualidade aparece como uma condição
necessária, com desenvolvimento das habilidades intelectuais e do domínio dos
conhecimentos científicos básicos para a inserção no mercado de trabalho de
acordo com os novos padrões de desempenho e de produtividade.
É com esta política que o novo ENEM cria,
por certo, demandas que não existiam. Obriga as escolas a repensar suas bases.
Exige dos professores uma série de posturas que antes não lhes eram comuns,
peculiares. Estipula a necessidade de leitura e atualização constante por parte
dos estudantes e em contrapartida, pelos educadores com os quais estarão
trabalhando. Propõe, através de suas questões, o desenvolvimento do raciocínio,
da capacidade de se relacionar, da possibilidade de ir além da mera memorização
de fórmulas e dados.
A interdisciplinaridade ou a
multidisciplinaridade entra em cena com a necessidade de ir “além dos muros da
escola” com viagens, leituras, filmes, exposições, músicas, poesia, artes
plásticas, navegação por sites com conteúdo inteligente e desafiador, entre
outras ações que se torna permanente.
Sobre o ensino médio pesa ainda um déficit
de 40.000 professores, principalmente de matemática, química e física, segundo
o MEC, e estas vagas são preenchidas com profissionais de outras especialidades
ou que nem mesmo chegou à faculdade.
Observa-se aí a escassez de profissionais
preparados para o ensino que chega a atingir escolas públicas e particulares
levando ao professor deste lugar despejar muito conteúdo em pouco tempo para
suprir todas as demandas exigidas pelo vestibular e agora pelo ENEM.
Percebemos, no entanto que falta contextualizar
este ensino, e neste contexto trago para nossa realidade brasileira as palavras
do filosofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) que se preocupava com o
ensino nas escolas de seu tempo e no período final da Renascença, quando ele
dizia: “Uma cabeça bem feita vale mais do que uma cabeça cheia”.
Segundo Fogaça (1998), os maiores desafios
ocupacionais são qualitativos, implicando a recuperação do sistema de educação
geral como um todo, com ênfase especial no sistema básico regular, elevando sua
qualidade, de forma a receber, reter e melhorar o fluxo de aproveitamento de
toda população em idade escolar, não deixando de dar atenção às deficiências do
trabalho pedagógico, observando a parcela de responsabilidade do próprio
sistema educacional, principalmente a competência dos recursos humanos que o
integram.
Alem disso, algumas indagações persistem
ainda neste âmbito. A grade curricular, nos diversos níveis de ensino, é
adequada? Os alunos aprendem mais hoje do que aprendiam no passado? Há, por
parte das escolas, uma preocupação com a formação cidadã de seus alunos, no
sentido de torná-los cada vez mais “socialmente inteligentes”? Ou as escolas
estão preocupadas apenas em diplomar uma quantidade cada vez maior de pessoas,
sem se preocupar com sua formação?
Citando novamente Luckesi,
A função da avaliação da aprendizagem é oferecer a
todos os envolvidos no processo pedagógico a possibilidade de conhecer as
amplitudes e os limites da aprendizagem do educando. Isso interessa ao
educando, ao educador, à instituição de ensino. As escolas anunciam à sociedade
que elas ensinam para que os estudantes aprendam. Então, isso deve ser cumprido
e, para tal, a instituições tem que investir em condições e pessoal para o
ensino. É estranho trabalhar para se obter insucesso. Isso é insanidade. Os
resultados da avaliação interessam a todos na escola, tendo em vista o seu
sucesso. Os exames escolares, muitíssimas vezes, são utilizados para expressar
que o fracasso escolar representa uma “escola boa”. Diz-se: “Aquela escola, é
boa porque aperta os estudantes”. Ledo engano. Uma escola é de boa qualidade
porque os estudantes efetivamente aprendem.
Estas são preocupações que devem ser
consideradas pela sociedade como um todo, pois, ter cada vez mais pessoas
qualificadas não é suficiente para que a nação possa alcançar níveis
satisfatórios de crescimento econômico e, consequentemente, se tornar mais desenvolvida.
Grande parte dos diversos trabalhos que
tratam da educação no Brasil restringe-se aos aspectos quantitativos, sendo
pouco discutidos os aspectos qualitativos. A eficiência do processo educativo
deve ser preocupação dos estudiosos da área para que se possam corrigir as
falhas no menor período de tempo possível, minimizando-se as conseqüências
desastrosas.
Enquanto a maior preocupação da sociedade
está na qualidade, de modo geral, o setor educacional visa à quantidade, tanto
no privado quanto no público, haja vista o predomínio de metas quantitativas no
próprio MEC.
Segundo Bourdieu (2002) no seu texto Sobre
as Artimanhas da Razão Imperialista, “o imperialismo cultural repousa no poder
de universalizar os particularismos associados a uma tradição histórica
singular, tornando-os irreconhecíveis como tais”. No entanto, sabe-se que,
nos países do primeiro mundo os níveis educacionais são mais elevados que nos
países em desenvolvimento como o Brasil. Resta saber, portanto, o sentido da
causalidade: são países desenvolvidos por causa do elevado grau educacional
médio de sua população, ou devem o elevado grau educacional a seu próprio
desenvolvimento?
Nota-se neste estudo da Portaria Normativa
16 no seu Art. 4º (2011). Quando cita que a certificação pelo ENEM destina-se, prioritariamente,
às pessoas que não concluíram o Ensino Médio em idade apropriada, inclusive às
pessoas privadas de liberdade e que estão fora do sistema escolar regular que,
tal fato só ocorre na portaria uma vez que nesta prova de habilidades e
competências que medem o preparo dos estudantes desde o 6º. Ano do ensino
fundamental e possui três níveis de dificuldades, que a avaliação vem excluir
cada vez mais o aluno que está fora da escola há muito tempo, os afros
descendentes, os indígenas, os privados de liberdade, e os adultos, porque
competirão em igualdade com os que estão saindo dos colégios particulares e de ensino
regular que são treinados constantemente a encararem exames semanais como forma
de verificação de conteúdos, habilidades e competências, o que não ocorre com
os demais.
Para alguns o exame é considerado
inclusivo porque nas Universidades Públicas da Bahia as notas do ENEM são
utilizadas pelas Federais do Recôncavo e do Vale do São Francisco como única
forma de ingresso, as vagas do bacharelado da Universidade Federal da Bahia
também utilizarão a nota do ENEM, no Instituto Federal da Bahia 50% das vagas
são destinadas ao ENEM, nas Estaduais 21% são com as notas do ENEM, e as
particulares também aceitam a nota do ENEM. Mas quem é capaz de adquirir as
melhores notas?
Se fizermos uma pesquisa minuciosa dos
egressos nas faculdades, perceberemos que a grande maioria são provenientes de
escolas regulares, com uma boa base educacional e neste ponto podemos lembrar Michel
Foucault, quando no seu livro A Ordem do Discurso na aula inaugural no Collége
de France, pronunciada em 02 de dezembro de 1970, fez a todos refletir sobre
questões desafiadoras como a “verdade” e a relação “poder-saber”. (1983)
“o poder não é
necessariamente repressivo uma vez que incita, induz, seduz, torna mais fácil
ou mais difícil, amplia ou limita, torna mais provável ou menos provável.”
Além disso, o poder é exercido ou
praticado em vez de possuído e, assim, circula, passando através de toda força
a ele relacionada por isso nem sempre o que está escrito é o que realmente
ocorre.
Analisando essas questões, suscitadas
através das leituras, surgem indagações como: Onde está o poder? O poder
está em cada um de nós? O poder se apresenta “mascarado”? O
“discurso” é um elemento do poder? Qual é o melhor resultado possível?
Através desses questionamentos, vale
refletir sobre os discursos que estão em
pauta no cotidiano, principalmente nas salas de aula. Que tipo de
discurso ouvimos, falamos, ou repetimos? Nessa perspectiva, o perigo estaria na normatização do
discurso, visto, assim, como um elemento do poder? Assim, a sociedade se torna
normativa e disciplinada através da linguagem dos discursos que se proliferam
indefinidamente.
Visto, por esse ângulo, o poder torna-se
mascarado, não sabemos, na verdade, onde ele está. Um discurso libertador pode se tornar opressor. Os indivíduos vão “apreendendo” idéias e valores
em nome de um discurso proferido como válido
pelas famílias, pelas instituições (principalmente as escolares). Assim “esses discursos” pretendem
incutir no homem o papel que ele precisa desempenhar na sociedade.
Nesse sentido, a vontade não é
expressão do desejo do homem. Nossa vontade de verdade camufla nossos desejos.
O que está em jogo é o “desejo”
e o “poder.” O discurso mascara
a verdade. O desejo do homem é escamoteado, surrupiado. O discurso que
prevalece é do indivíduo que detém o poder,
ou seja, o saber. Assim, como
diz Foucault, “cada sociedade tem sua política
geral da verdade”.
Os discursos políticos, educacionais,
religiosos, terapêuticos não podem ser dissociados dessa prática que determina
para os sujeitos que falam, ao mesmo tempo, propriedades singulares e papéis
preestabelecidos. Discursos veiculados pela mídia têm legitimidade quando proferidos
por governantes, médicos, advogados, executivos, economistas, professores, etc.
E a voz dos oprimidos? Quando será
ouvida? Que prodigiosa maquinaria é essa que exclui aqueles que insistem em não
ouvir os “discursos legítimos” ou
não colocar em prática a “ordem”
advinda desses discursos?
Por
isso quando se fala em avaliação ou exame deveria se pensar que ela serve à finalidade da ação, a qual
está vinculada. Se estamos avaliando a aprendizagem, ela serve à busca do
melhor resultado da aprendizagem que está sendo processada porque em síntese,
avaliação tem como finalidade servir à ação, seja ela qual for; são os projetos
de ação que buscam a construção de determinados resultados, a avaliação os
acompanha, serve-os.
Sabendo que para obter certificação no nível de conclusão do
ensino médio ou declaração de proficiência com base no ENEM, o interessado
deverá atender aos requisitos de possuir 18 (dezoito) anos completos até a data
de realização da primeira prova do ENEM, o que muitas vezes não ocorre e os responsáveis
pelos menores classificados se valem do sistema jurídico do Brasil para entrar
com pedido de liminar junto a Secretaria Estadual e assim obter a certificação
uma vez que a lei deixa brechas quanto o que é maioridade e a escola se vê
obrigada a acatar a determinação judicial mesmo não concordando.
A escola ainda deverá analisar na presença
do candidato se ele atingiu o mínimo de 400 pontos em cada uma das áreas de
conhecimento e o mínimo de 500 pontos na redação, caso tenha ocorrido de o
candidato não alcançar este mínimo exigido em alguma área do conhecimento ele
poderá se certificar se desejar submeter-se a avaliação de certificação para
jovens e Adultos através da Comissão Permanente de Avaliação – CPA – nas
Unidades Escolares do Estado da Bahia que estão aptas para certificar-los.
Porém a escola ainda não está preparada
para a certificação através das áreas de conhecimento uma vez que o seu
currículo é por disciplinas e se, por exemplo, o interessado não alcançar os
500 pontos mínimos exigidos em redação, mas, se aprovar com o mínimo de 400 na
prova objetiva de linguagens códigos e suas tecnologias ele deverá se submeter à
prova de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Redação uma vez que na CPA
não existe apenas a prova de redação, mas ela é associada à Língua Portuguesa e
Literatura devendo o candidato alcançar o mínimo de 5,0 (cinco) pontos nas 20
questões objetivas mais a redação.
Criado em 1998, durante a gestão de Paulo Renato de
Souza no Ministério da Educação, o Enem foi e continua sendo objeto de muitas
críticas. A exemplo dos demais indicadores da educação, ele também não é visto
como um metro confiável. Questiona-se, sobretudo a sua capacidade de medir a
qualidade das escolas, uma vez que seu objetivo é avaliar alunos. Surgem também
questões sobre a elaboração das perguntas nas
avaliações como em 2009 que aparecia uma pergunta questionando a existência de
Deus, em 2010 que a homofobia é
a rejeição e menosprezo à orientação sexual do outro.
Se há uma conclusão que se pode extrair do Enem é que
a rede pública comum de ensino não tem conserto caso continue no ritmo em que
se encontra hoje – obrigada a aceitar todos os tipos de alunos e a não exigir
nada deles. Ou se resgata ao menos a disciplina nas escolas públicas comuns, ou
não há a menor chance de que elas venham a se destacar em avaliações como Enem.
E não basta exigir do diretor que salve a escola com sua gestão; é preciso
resgatar valores como mérito e disciplina, que não foram apenas esquecidos nas
escolas públicas – foram simplesmente proibidos.
Ora, se é uma insanidade comparar escola pública com
escola privada (e, em parte, é), também é insano cobrar do professor da rede
pública que ele faça milagre, ensinando com eficácia alunos muitas vezes
incapazes de aprender. E quando se trata do ensino médio, o fosso entre escolas
públicas e privadas tende a ser ainda maior. Se no ensino básico, como o
próprio nome diz, trata-se de ensinar o que é comum para todos, no ensino médio
a escola já se defronta com exigências sociais mais complexas, como preparar o
adolescente para a universidade ou para uma profissão. Nesse caso, disciplina é
fundamental, mas não basta. A escola precisa de estrutura, sobretudo para o
ensino de ciências, que tende a ser improdutivo se ficar no discurso e na cópia.
Talvez por isso, as piores notas do Enem são justamente nas provas de ciências
da natureza, especialmente nas escolas públicas comuns (nem técnicas, nem de
universidades), onde os laboratórios são quase inexistentes.
Muitas vezes
acredito que o Enem, não parece um exame para avaliar a qualidade do ensino e,
sim, uma ficha de filiação partidária. O Enem é flagrantemente ideológico e
obriga o aluno a ver o Brasil com os olhos da esquerda. Essa afirmação exige
uma análise detalhada de suas provas – papel que caberia às universidades. Mas
como elas não têm isenção ideológica para tanto, esse papel acaba recaindo
sobre os ombros de uns poucos indivíduos independentes.
Concluo com o
que diz o jornalista José Maria e Silva do Jornal Opção:
“Adianto que as provas de ciências humanas do Enem –
complexas no método e na forma, mas vazias no conteúdo – praticamente obrigam o
aluno a pensar como o MST, a acreditar que a mais grave doença atual é a
homofobia e a reduzir a história do Brasil à luta de classes, em que uma
burguesia sádica explora por prazer um proletariado idílico. Felizmente, a
disciplina cognitiva e moral de muitos alunos conseguiu vencer uma ideologia
disfarçada de ciência, que, mais do que atrapalhar o aprendizado, inviabiliza o
próprio aprendiz”.
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Interdisciplinaridade no Ensino da Matemática. UGB – 2009
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